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CRÍTICAS À MANEIRA DE SEGURAR O VIOLINO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

          “O que capacita alguns indivíduos a executar facilmente movimentos complexos, enquanto outros parecem ter dificuldades com habilidades relativamente simples?”1 Ao violino, movimentos graciosos e precisos requerem níveis adequados de resistência, flexibilidade e capacidade aeróbica. O desenvolvimento motor é relacionado a padrões de movimento de acordo com o estado de maturação individual e seu respectivo controle motor. Assim, o processo de ensino e aprendizado tem que planejar apropriadamente o desenvolvimento motor e psicológico. A psicologia do esporte associada à da música podem ser utilizadas para incentivar estados individuais de ativação ou relaxamento corporal e também o nível de motivação individual.

 

          Biomecânica, termo definido por Hatze, é “o estudo da função dos sistemas biológicos utilizando os métodos da mecânica”.2 No caso especifico do violino, "fatores antropométricos, incluindo o tamanho, a forma e o peso dos segmentos corporais",3 devem ser considerados. "Características antropométricas podem predispor um atleta ao sucesso em um tipo de esporte e podem ser desvantajosos para a participação em outro tipo".4 O mesmo é válido para a música. No caso do violino adapatções técnicas tem que ser feitas pelo professor junto ao aluno para que este seja capaz de ter um bom desempenho como violinista.

 

          De um modo resumido, podemos afirmar que cinesiologia (o estudo do movimento humano) ... lida com as bases anatômicas e mecânicas dos movimentos do corpo humano.5 Na realidade, o estudo dos movimentos do corpo humano é multidisciplinar. Um professor que desconhece elementos básicos de cinesiologia é capaz de provocar danos físicos e psicológicos ao aluno, o que muitas vezes podem ser irreversíveis. Assim, "uma combinação de fatores como a força inadequada, uma sequência imprópria de movimentos pelos segmentos corporais aliados a um baixo nível de motivação podem limitar a eficácia e a sutileza de um dado movimento".6 Ao violino isto é crucial!

 

          No universo da música, o papel dos biomecânicos no treinamento de musicistas de elite, principalmente de violinistas, é incipiente ou mesmo inexistente, mas será cada vez maior no futuro. A cinematografia de alta velocidade, técnica de coleta de dados comumente usada entre os biomecânicos do esporte, pode registrar os desempenhos nos mínimos detalhes e, quando o filme é analisado, os dados podem ser estudados por um computador para se obter uma performance perfeita. ... Outra preocupação dos biomecânicos é a redução das lesões do esporte, através tanto da identificação de práticas perigosas quanto do projeto de equipamentos e aparelhos seguros.7  O mesmo é possível de ser feito com os violinistas. Como afirma Carlos M. Ramos Mejia, em La Dinamica Del Violinista, para isto precisamos reduzir conceitos de como se toca violino a duas categorias de observação: a lógica e a absurda [ilógica].8

 

          Com isso, não fazemos mais do que insistir no que foi dito alhures, com referência a várias escolas: a que pode ser admitida como boa (a partir da coordenação natural dos movimentos fisiológicos), e a má (aquela que se sustenta por observações pragmáticas "visuais" quase sempre errados, em certos instrumentistas).9

 

          Em primeiro lugar devemos chamar a atenção que violino se toca com dois instrumentos com técnicas independentes mas coordenadas, o violino e o arco.

 

          No caso específico do violino começaremos a analisar o modo de se segurar o instrumento entre a clavícula e a mandíbula.

 

          A acomodação do violino entre o queixo e o ombro, mantendo a estabilidade do instrumento sem colocar seu peso na mão, é o ponto de partida em qualquer escola. Vale a pena dizer que sobre este último (eliminação do peso do lado esquerdo) não existem dois critérios diferentes. E não poderia ser de outra forma, pois se a mão desempenhasse um papel ativo no suporte do braço do violino, dificultaria seu próprio movimento ao longo da tastieira, (impedindo as mudanças de posição, o deslocamento da mão).10

 

          Então existe apenas um critério sobre o assunto. O violino deve ser seguro entre o osso da clávícula e a mandíbula!

 

          O que dizer então sobre espaleiras, ou ombreiras?

 

          Indo para o assunto, argumento que é essencial adaptar o instrumento às possibilidades de movimentos do corpo humano, e não vice-versa como normalmente se busca inconscientemente. Com a premissa mencionada, começaremos por fazer justiça a uma ordem cronológica, uma vez que o violino foi construído para o homem e não o contrário.11

          Manter o instrumento estável sem a intervenção da mão esquerda e deixar o antebraço e a mão em completa liberdade é, portanto, o primeiro postulado.12

          Perseguindo esta finalidade e como complemento auxiliar, Otakar Sevcik construiu sua famosa “queixeira” de altura graduável, com a qual obrigava a estabilidade do instrumento qualquer que fosse a constituição física do executante.13

 

          O famoso mestre provavelmente reconheceu seu fracasso e assim abandonou essa idéia.

 

          O aparelho suplementar em questão exigia, pelas suas características de altura e forma, manter o pescoço quase reto, ao mesmo tempo que provocava a tensão dos músculos de tudo que estava em atividade, uma vez que o ombro se quedava inerte. Essa atitude passiva dos grupos de músculos do ombro (e consequentemente as costas), gravitava sobre o braço (colocado na direção e paralelo ao centro de gravidade do corpo), o qual obrigava durante a execução, a contração ativa e permanente dos músculos do braço, (principalmente do bíceps) para sustentar o dinamismo nos movimentos capitais de flexão e extensão do antebraço e sucessivas contrações dos dedos.14

 

          Esta descrição foi publicada em “A Dinâmica do Violinista” em 1947! É extremamente atual para os problemas do início do século XXI, só que hoje são propagados pelo uso indevido da espaleira, ou ombreira, que usa os mesmos princípios da invenção de Sevcik, só que agora é apoiada sobre a parte inferior do corpo do violino e não diretamente sobre a clavícula e sim sobre os músculos do ombro esquerdo. Tornou-se um grande sucesso comercial a despeito da saúde dos músicos. Algumas são vendidas como ergonômicas. Até crianças são induzidas a usar estas coisas. Há inúmeros modelos e cada um promete sempre o mesmo: a estabilidade do violino! O que entregam é tensão muscular e muitos problemas de natureza médica. É um assunto ainda mal explorado pelas instituições de saúde.

 

          Continuando Carlos M. Ramos Mejia afirma:

 

          Isto é parte de um conceito equivocado sobre a dinâmica dos movimentos dos dedos. Para alcançar a coordenação e elasticidade nas sucessivas flexões do dedos, é indispensável manter o antebraço livre (em estado de tonicidade muscular) para o qual o cotovelo há de sentir-se sustentado ou suspendido pelo braço. Basta fazer a experiência de levantar o ombro ao mesmo tempo em que se força o cotovelo a entrar na linha média (plano sagital do corpo) - ou o que seria: a posição em adução oblíqua do cotovelo sob a caixa do instrumento - de forma que imediatamente a facilidade de todos os movimentos do antebraço e conseqüentemente da mão podem ser experimentados. A elevação do ombro (contração ativados músculos do ombro) para sustentar o violino, conjuntamente com a flexão correlativa dos músculos do cotovelo (movimento descendente da cabeça sobre o apoio do queixo), a contração permanente do bíceps é reduzida ao mínimo, uma vez que o grupo de músculos superiores do braço permanece semi-sustentado (sensação estática dos músculos devido à expansão natural do músculos peitorais e dorsais).15

 

          Este conceito elimina a necessidade do uso de espaleira ou ombreira. É para um contato direto do instrumento entre a clavícula e a mandíbula. Não elimina a necessidade do uso de queixeira.

 

          Na tese de Carolina Valverde Alves, intitulada “Padrões Físicos Inadequados na Performance Musical de Estudantes de Violino”, há um certo nível ingênuo de defesa do uso da espaleira, ela não percebe a relação do uso da espaleira e os consequentes problemas físicos apresentados pelos alunos que ela mesma examinou. Assim ela afirma: "Com relação ao uso da espaleira, a altura desta deve estar relacionada comn o tamanho do pescoço do violinista".1 Os possíveis formatos de espaleira que hoje se encontram disponíveis no mercado tem que ser discutidos junto a um especialista, neste caso um professor que tenha nocões elementares de ergonomia, pois a maioria causa mais danos físicos que resolve o problema de se sustentar o violino. Em muitos casos o uso de uma espuma plástica é preferível ao de uma espaleira

 

          Como complemento à esta narrativa apresento um depoimento pessoal:

 

          Violino é muito incômodo de tocar no princípio de seu aprendizado. Eu me lembro até hoje como foi comigo aos seis anos, principalmente quando me forçaram a usar espaleira. Meu corpo doía e eu fiquei com a coluna, que já não era muito reta, torta. Foi horrível. Pior ainda foi a tortura emocional da exigência de meus pais, professores e irmãos sobre o fato de eu não conseguir praticar violino em casa com regularidade em função das dores. Também pudera, era muito sofrido com aquela espaleira. Eu queria tocar sem usá-la mas era proibido, o sistema pedagógico em voga na época exigia seu uso obrigatório. De repente os ossos envolvidos no processo de adaptação do corpo ao violino saíram do lugar correto, pois os tecidos conjuntivos (tendões e ligamentos) das crianças são muito flexíveis e eu então, depois disso, consegui tocar com espaleira. Mas o preço a pagar veio depois dos trinta anos de idade quando os tecidos nervosos em minha coluna passaram a ser comprimidos pela vértebras deslocadas e também pelos ossos do ombro esquerdo deslocados. As dores eram horríveis! Só o abandono da espaleira e um posterior tratamento de correção postural com uma fisioterapeuta resolveram o problema. Eu não quero que isso ocorra com meus alunos, por isso não os forço a praticar intensamente no início e procuro fazer com que eles se adaptem ao violino naturalmente. Óbvio, sem o uso de espaleira.

 

          É interessante, depois do que acima foi explicado, rever os conceitos de Lepold Auer, no capítulo II de seu livro, em “Sobre Como Segurar o Violino”.17 É dele esta frase:

 

          O próprio início de todo o tocar do violino - a questão aparentemente simples de segurar o instrumento, por exemplo, antes que o arco seja posto em prática - tem uma ampla gama de possibilidades para o bem ou para o mal.18

 

          Assim continua:

 

          Ao segurar o violino, a primeira coisa a ter em mente é que ele deve ser mantido em uma posição em que os olhos possam ser fixos na cabeça do instrumento, e o braço esquerdo deve ser empurrado para a frente sob a parte de trás do violino, de modo que os dedos cairão perpendicularmente sobre as cordas, as pontas dos dedos golpeando-as com decidida firmeza.

          O segundo ponto importante é evitar apoiar o violino no ombro ou, vice-versa, empurrar o ombro por baixo do violino. A colocação de uma almofada embaixo da parte de trás do instrumento, a fim de dar um suporte mais seguro à preensão do queixo, também deve ser evitada. São maus hábitos, que se devem evitar desde o início com cuidado, pois não só estragam a pose do violinista em geral, mas - e isso é extremamente importante - fazem com que o músico perca pelo menos um terço de todo o seu corpo de som que seu violino - seja um instrumento fino ou indiferente, poderoso ou fraco, é capaz de produzir.

          Quanto à queixera, a que for utilizada deve ser adaptada ao pescoço individual, de forma que por meio dela o violinista seja capaz de segurar o instrumento com facilidade e sem esforço. Os violinistas que apoiam o instrumento contra o ombro e/ou colocam uma almofada nas costas do mesmo - ambos atuando como surdinas - evidentemente não têm noção do efeito desastroso que esse arranjo tem em seu som.

           Procure sempre diminuir a distância entre os braços, aproximando-os inclinando o corpo levemente para a esquerda, mas sem apoiar o braço esquerdo contra a frente do corpo. A princípio você não achará fácil levantar o violino sem apoio, mas com o passar do tempo o indivíduo se acostuma a isso, com um ganho resultante na facilidade de alcançar as posições mais altas, bem como na execução de passagens descendentes rápidas.

 

          Completando este assunto, quero acrescentar as plavras de Casorti que reforçam, com palavras resumidas, as idéias de Auer, assim como as de Harth e Rosand sobre este assunto, explicadas a mim oralmente. Também brevemente discorre sobre a posição do cotovelo e o uso dos dedos da mão esquerda nesta curta passagem de seu livro, que por muitas vezes por não ser de referência exclusiva à técnica de arco, é despercebida. Está ainda no começo de seu livro:

 

                                                                             Como Segurar a Mão Esquerda

 

          Ao fixar as notas sobre a corda com os dedos, estes devem pressionar firmemente as cordas; também devem ser elevados o suficiente para produzir, ao cair sobre a corda, o efeito de alguns golpes de martelo. Segure o cotovelo na frente do peito, para dar aos dedos sua posição adequada sobre a tastieira; assim, você evitará que os dedos se desalhinhem com as cordas, o que diminuiria a qualidade sonoridade dos notas.19

 

          É interessante observar o título deste parágrafo explicativo de Casorti: Como Segurar a Mão Esquerda. Isto implica no fato de que não é a mão esquerda que segura o violino, mas sim o oposto: o violino segura a mão esquerda! Se bem posicionado entre a clavícula e a mandíbula é possível dependurar a mão e braço esquerdos sobre a tastieira, assim pressionando as cordas com o peso do braço para isso usando a gravidade. Assim ensinou-me Marie Cristine Springuel a pressionar as cordas. O livro de Casorti confirma isto neste pequeno detalhe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           Geminiani, em seu livro “A Arte de Tocar o Violino”,20 na edição facsimilar, Exemplo 1, página 1, letra B, estabeleceu o que passou a ser conhecido como “pegada de Geminiani”. São as notas ré com quarto dedo sobre a corda sol, sol com terceiro sobre a ré, dó com segundo sobre a lá e fá com o primeiro sobre a mi, todas naturais, em primeira posição.

 

          Esta “pegada” define a posição do braço e cotovelo com grande precisão, concordando com o que acima foi exposto. Esta técnica, estabelecida em 1751, ainda é válida hoje!

 

          Com o intuito de reforçar este assunto, apresento aqui um artigo publicado na revista Strad sob o título “Abandone a espaleira para melhorar seu tocar?”, onde Aaron Rosand discorre sobre as vantagens de não se usar espaleira. Apresenta o seguinte subtítulo: “Neste artigo, publicado pela primeira vez em 2007, o violinista e pedagogo Aaron Rosand explica por que uma espaleira pode atrapalhar uma boa técnica”.

 

          A posição é o fundamento mais importante no desenvolvimento de bons instrumentistas, pois afeta o som. Por estranho que possa parecer, ninguém hoje em dia lhe dirá como segurar o violino. Agora, em todas as partes do mundo, muitos professores aconselham os alunos a usar espaleiras porque dizem que facilita o tocar.

          Heifetz dizia aos alunos para não entrarem em seu estúdio se tivessem espaleiras nos ombros. Eu não sou tão severo, mas eu os desencorajo fortemente. Elas colocam o violino na posição errada e alteram o ângulo da ponta do dedo na corda que produz o vibrato. A posição do braço esquerdo está completamente fora do lugar, porque na escola Auer do violino fica na clavícula ao invés do ombro. Seu olho deve olhar para baixo sobre a tastieira na direção da voluta, e o braço esquerdo deve ser colocado bem embaixo do violino. Com uma espaleira, o cotovelo esquerdo voa para fora porque a espaleira - não o músico - está segurando o violino.

          O controle da velocidade do vibrato nunca é tão bom com uma espaleira. A ponta do dedo gira na corda e o vibrato geralmente vem do braço, e não da ponta do dedo, e geralmente é unidimensional. Somente sem uma espaleira pode-se desenvolver um som pessoal identificável. Heifetz, Milstein, Elman, Oistrakh e Szigeti tocavam perfeitamente sem uma.

          Se um aluno se acostumou a tocar com o polegar estendido muito para a frente, é muito difícil mover o polegar para trás e, sem qualquer pressão no braço do violino, fazer os dedos se articularem independentemente. Os dedos devem quicar nas cordas como pequenas molas. Cada dedo tem que ser independente. Somente nesta posição surge a entonação pura. A mão esquerda se torna como uma máquina. Não importa onde esteja no violino, a entonação será perfeita e pura.

          A espaleira também afeta o braço do arco. Se você mover o violino para a esquerda, o braço direito deve ser estendido, exigindo a aplicação de mais pressão na corda. Essa pressão aumentada emprega não apenas a mão ou o pulso, mas também o braço, uma violação fundamental da posição adequada para Auer e todos os outros grandes violinistas do passado.21

 

          Em seu livro intitulado “O Violino”,22 Yehudi Menuhin faz uma observação que passa despercebida por muitos leitores.

 

          O violino ... está mais perto dos sentidos. É uma extensão do corpo humano: repousa sobre a clavícula e comunica suas vibrações aos nossos ossos e espaços vazios do nosso corpo, que então ressoam por sua vez. O esqueleto, a cabeça, os pulmões, o corpo inteiro vibram em uníssono com o violino.

 

          Abaixo está uma foto onde mostro a posição correta do violino preso entre a clavícula e a mandíbula sem o uso de uma ombreira (espaleira). O violino parece flutuar, não encosta no ombro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

         

          Em um livro de literatura médica encontrei este parágrafo alarmante:

 

          Enquanto historicamente os violinos e as violas eram tocados sem estes apoios externos, a maioria dos músicos contemporâneos utiliza dois apoios removíveis e modificáveis para ajudar a posicionar e estabilizar o instrumento. O apoio para o queixo é um dispositivo de madeira liso, escavado na parte superior para acomodar o queixo do músico e fixado no tampo do violino. A escolha do apoio para o queixo é feita em função do conforto e da facilidade de tocar, existindo uma variedade de modelos disponíveis. Para minimizar a irritação crónica da pele do queixo, o apoio de queixo pode ser almofadado. Os apoios para as espáduas fixam-se à superfície inferior do violino e estão disponíveis numa vasta gama de modelos, de diferentes materiais, tamanhos e formas, para se adaptarem a cada pessoa. A seleção de um apoio de ombro é também determinada pelo conforto. A sua função é apoiar o instrumento, preenchendo parcialmente o espaço entre a parte superior do ombro esquerdo, a clavícula e o queixo. Apesar destas ajudas, se o instrumento for considerado insuficientemente apoiado, o músico, consciente ou inconscientemente, eleva o ombro esquerdo e empurra para baixo com a parte lateral do pescoço e o maxilar. Isto produz tensão no pescoço, no ombro esquerdo e na parte superior das costas, limitando a facilidade de movimentação do braço inferior. A resistência ao movimento é reduzida e está [dessa forma] criado o cenário para as síndromes de utilização excessiva do braço esquerdo. 23

          Observações empíricas demonstram que espaleiras, independentemente do modelo escolhido, jamais se adaptam aos movimentos contínuos e ininterruptos do corpo humano durante a execução de uma música ao violino. Assim, nunca atingem seu propósito de estabilizar o instrumento. Desse modo, por contradição, conclui-se que até a medicina ortopédica não faz a defesa do uso de espaleiras e ao contrário aponta esta como causa de síndromes. 

 

          Sobre a Queixera recomendada por Maia Bang, assistente de Auer, apropriada para tocar sem espaleira ou qualquer tipo de ombreira.

 

          Para garantir que a região dos ombros permaneçam relaxadas, é necessário determinar a posição correta da cabeça. … Lev Tseitlin, que segurava o violino com extrema liberdade, recomendava partir da posição normal e natural do pescoço, cabeça e ombros. A partir daí, o queixo precisa ser apenas ligeiramente abaixado e o instrumento é fixado com segurança com o lado esquerdo da mandíbula. Essa posição permite maior liberdade nos braços e na parte superior do tronco.24

          A estabilidade do instrumento desempenha um papel importante ao permitir a livre movimentação dos braços, especialmente do braço esquerdo. É por isso que o uso eficaz de uma queixera e de uma almofada é extremamente importante. A queixera não deve ser muito alta, mas profunda o suficiente para que o queixo fique sobre ela com segurança, permitindo que o violino seja segurado com firmeza. Se a queixera for muito plana, o queixo deve ser apertado para baixo para segurar o violino, e isso causa tensão nos músculos do pescoço.25

 

          De acordo com Maia Bang,26 a queixeira deve ter dois propósitos diferentes:

 

          1. Seu primeiro propósito deve ser permitir que o violinista segure o violino com firmeza e segurança.

          2. Seu segundo objetivo deve ser proteger a parte superior do violino de ser tocada pelo queixo do intérprete.

 

          Segundo Maia Bang, o violino perde mais volume sonoro ao ser tocado na parte superior do que nas costas. Em seu livro há uma foto de um modelo especial de queixeira para se tocar sem espaleira ou ombreira, modelo recomendado por ela e também a mim por Sidney Harth. Hoje em dia este modelo é comercializado sob o nome de Wendling. Costuma ser acessível e barata. Esta é a que eu uso.

           Modelo de queixeira recomendada por Maia Bang para se tocar sem espaleira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 - Hall, Susan, Biomecânica Básica, pg. 0, Editora Guanabara Koogan S.A., 1993 pg. 0.

2 - Ibid., pg. 0.

3 - Ibid., pg. 1.

4 - Ibid., pg. 2.

5 - Ibid., pg. 3

6 - Ibid., pg. 1.

7 - Ibid., pg. 5.

8 - Carlos M. Ramos Mejia, La Dinamica Del Violinista, 3ª Edição, Ricordi Americana, 1947, pg. 15.

9 - Ibid., pg. 15.

10 - Ibid., pg. 15.

11 - Ibid., pg. 16.

12 - Ibid., pg. 16.

13 - Ibid., pg. 16.

14 - Ibid., pgs. 16 e 17.

15 - Ibid., pg. 17.

16 - Carolina Valverde Alves, Padrões Físicos Inadequados na Performance Musical de Estudantes de Violino, Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, B.H., Fevereiro de 2008, pg. 20.

17 - Leopold Auer, Violin Playing as I Teach It, Dover Publications, Inc. New York, 1980, pg. 10.

18 - Ibid, pg. 10.

19 - Casorti, The Technics of Bowing For The Violin, Op. 50, Schirmer's Library of Musical Classics,1939, pg. 2.

20 - Francesco Geminiani, The Art of Playing on the Violin, 1751. - Tradução ao Espanhol, El Arte de Tocar El Violin, Editorial Arpegio, San Cugat, 2012.

21 - Rosand, Aaron, The Strad Magazine, Ditch the shoulder rest to improve your playing?, 2007. Disponível em: https://www.thestrad.com/playing/ditch-the-shoulder-rest-to-improve-your-playing/12293.article . Acesso em: 26 de abril de 2021. 22 - Menuhin,Yehudi, The Violin, Flamarion, Paris/New York, pgs. 116, 117, 1996.

23 - Raoul Tubiana and Peter C. Amadio, Medical Problems Of The Instrumentalis Musician, Martin Dunitz Ltd, 2000, pg. 83.

24 - Yuri Yankelevich, The Russian Violin School, The legacy of Yuri Yankelevich, 1- Setting up the Violin and Bow Hold, Translated and Edited by Masha Lankovsky, Oxford University Press, 2016, pg. 17.

25 - Ibid., pg. 18.

26 - Maia Bang, Violin Method, Part 1, Carl Fischer, 1937, pg. 8.

Comentários:

Alexandre Sinicio

21 de jul. de 2021

 

Texto muito rico em informações e raro, não há tantos bons textos sobre o tema. Bem técnico e embasado. Eu particularmente tenho feito experiencias retirando a espaleira para fazer alguns estudos. Uma frequência de 1 vez na semana sem, com intensão de ampliar. São formas diferentes de trabalhar o corpo ao violino. Nunca tinha me deparado com a informação sobre os ossos ressoarem em função do encaixe na clavícula, e faz muito sentido, o colorido Harmônico ganha matizes mais amplas. Um paralelo a isso é o que se pode fazer com os cantores que usam técnicas de ressonância na Caixa Craniana enriquecendo e projetando melhor o som, o canto.

ferreira.romao1986

20 de jul. de 2021

 

Excelente o seu texto, professor! Uma segunda aula. O mestre Auer de fato foi o pai da técnica moderna eficaz e saudável do violino. E quem se embasa nele, consegue filtrar o que as outras escolas ensinaram. Como o professor mesmo me disse hoje na aula, falando sobre a visão técnica de Casorti sobre como segurar o violino e o arco. Já pude consideravelmente notar a diferença da amplitude e projeção sonora do meu instrumento, ultilizando uma almofada sobre a clavícula e sem ela.

Gratidão,

Tiago

marcos15271308

20 de jul. de 2021

 

Muito esclarecedor o texto, rico em detalhes, procurando sanar um problema tão elementar com o qual lidei por muito tempo: segurar o instrumento! Isso tem uma tanta influência que quando aprendi um pouco sobre, o ato de tocar ficou infinitamente mais fácil. É raro achar textos sobre violino com uma didática e com informações profundas sobre qualquer assunto, a maioria dos conteúdos na internet, ainda mais os em português, são muito vagos, mal explicados, deixam muita brecha para dúvidas. Este texto, assim como os outros do site, não são assim, um raro achado em meio a tantas asneiras.

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