"Pensar é tornar as coisas mais simples do que são”.1 Contudo, algumas simplificações atraentes negligenciam fatores cruciais daquilo que tentam explicar.

 

          Tocar violino, por natureza, é uma atividade motora complexa. “É, portanto, uma função que envolvolve habilidades e comportamentos específicos, que integram e combinam aspectos motores e psicológicos, entre eles a memória, relacionados a funções perceptivas, com profundo desenvolvimento sensorial, intelectual e motor, de recebimento de informações e execução adequada do ato de resposta.”2 Deste modo, é mais fácil incutir erros e técnicas de má qualidade nos alunos que encontrar soluções eficazes para cada indivíduo que se aventura a aprender a arte do violino.

 

          O primeiro problema que se apresenta é relativo à coordenação motora. Consideramos, de acordo com Hollman e Hettinger (1989), como uma “ação sinérgica do sistema nervoso central e da musculatura esquelética dentro de uma determinada sequência de movimento”.3

 

"Um professor há que ser conciente de que cada estudante tem sua própria personalidade, suas próprias características físicas [biotipo] e uma disposição mental diferente, seu próprio enfoque do instrumento e da música".4

 

          Conscientes disto, então por que a grande maioria dos professores de violino ignora estes preceitos tão simples? Por que artistas renomados em sua arte se acham automaticamente capacitados a ensinar? Não seria um ato de arrogância?

 

          Ao tentar responder estas perguntas percebemos que ao menos no Brasil existe a dicotomia entre os cursos universitários de licenciatura e bacharelado em música. Para piorar a situação, não existe nos programas de cursos universitários de música qualquer matéria ligada à anatomia humana, fisiologia (com a exceção de fisiologia da voz, normalmente ensinada por cantores), biomecânica e cinestesia. Matérias relativas à saúde física e psicológica dos músicos são tabus! Matérias correlatas à pedagogia geral e psicologia geral existem, mas nada específico ao ensino da música ou de instrumentos musicais. Deste modo, professores de instrumento aprendem na prática, cometendo erros, e às vezes graves, de como ensinar seus instrumentos. Pior que isso é o fato daqueles que somente possuem o diploma de bacharelado ou correlato do exterior se arvorarem de pedagogos. É comum cometerem mais erros que acertos! Às vezes ignoram até as leis vigentes quanto ao ensino geral do Brasil. O ideal seria que as universidades oferececem cursos de música onde de modo simultâneo seja também ofertado o ensino da arte da música aliada ao da pedagogia do instrumento. Uma integração com os cursos de educção física é aconselhavel. A saúde dos músicos tem que ser preservada, tanto a emocional quanto a física. Os alunos agradeceriam!

 

          Com o objetivo de apresentar algumas pequenas propostas de solucão aos problemas descritos no parágrafo anterior, quero iniciar a discussão de um assunto chamado tecnicamente de maturação, normalmente ignorado pelos professores de violino que não tem curso de Licenciatura em Música.

 

          "A palavra maturação se refere aos padrões de mudança internamente determinados em coisas como estatura e forma do corpo, bem como às habilidades que se iniciam por ocasião da concepção e continuam até à morte. As “instruções” para o desdobramento das sequências do desenvolvimento presumivelmente fazem parte do código genético, por isso em certo sentido estamos falando de um subconjunto de influências genéticas. … Maturação se refere aos programas genéticos que produzem padrões semelhantes de crescimento e mudança em todos nós.

 

          O desenvolvimento determinado pela maturação, em sua forma pura, ocorre independentemente de práticas ou de treinamento. … Mudanças na conformação do corpo, o desenvolvimento dos órgãos, etc. Tudo isso ocorre sem intervenção externa (a não ser da nutrição). Mas o desenvolvimento governado pela maturação não pára ao nascimento. O desenvolvimentos de habilidades ... é adquirida em sequência e parece ser, ao menos em parte, o resultado de mudanças fisiológicas internas. E nos adultos a perda de algumas habilidades físicas bastante rapidamente, também podem ser resultado de mudanças físicas internamente programadas.

 

          Queremos acentuar, entretanto que há bem poucos casos de maturação pura em que a prática ou a experiência não represente alguma diferença. … No outro extremo do ciclo da vida, exercícios regulares e uma boa dieta podem adiar ou impedir muitas das diminuições das capacidades físicas associadas ao envelhecimento.

 

          Esses dois tipos de influências internas – a constituição genética específica de cada indivíduo e o código genético comum que vemos atuando através da maturação – criam uma estrutura para o desenvolvimento. Mas os detalhes que preenchem a estrutura são funções da experiência e não da herança".5

 

          O conhecimento básico sobre este assunto, maturação, é essencial para o processo de tomadas de decisões que um professor de violino tem que fazer ao longo da condução de seus alunos. Ele tem que aprender a perceber cada fase do desenvolvimento físico com suas consequências psicológicas sobre os alunos e adaptar e readaptar seus processos pedagógicos constantemente. É um trabalho contínuo e árduo!

 

1 - Eduardo Giannetti, Vícios privados, benefícios público? A ética na riqueza das nações. Editora Schwarcz, LTDA, 2007, pg. 162.

2 - BENETTI, Idonézia Collodel; et. al.,Psicomotricidade e desenvolvimento: concepções e vivências de professores da educação infantil na amazônia setentrional, Estudos e Pesquisas em Psicologia, 2018. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/revispsi/article/view/38814/27161 . Acesso em: 28 abr. 2021.

3 - Valdir A. Brabanti, Teoria e prática do Treinamento Esportivo, 2ª Edição revista e ampliada, Editora Edigard Blücher Ltda, 1997, pg. 138

4 - Ivan Galamian, Interpretacion Y Enseñanza Del Violin, Ediciones Pirámide, S.A, 1998, pg. 13

5 - Helen L. Bee e Sandra K. Mitchell, A pessoa em Desenvlvimento, Maturação, pg. 8.