Arte do Violino
PEDAGOGIA BÁSICA DO VIOLINO.
O início!
É inegável a genialidade de Shinichi Suzuki quanto ao quesito motivação! Através de seu método, por ele denominado de Educação do Talento, conquistou adeptos em todo o globo. É um título contraditório, pois ele de início, no Prólogo, afirma: “Talento não é um acaso do nascimento”. 1
Em qualquer nível de desenvolvimento, motivação é o grande segredo para qualquer atividade humana. Sem ela a mente padece e o corpo adoece.
Suzuki cita o fato de que crianças que ouvem suas mães cantando desafinado também terão problemas de afinação,2 contudo o oposto também é verdadeiro.
Quanto à disposição e hereditariedade, estou convencido de que é somente o funcionamento fisiológico que pode ser medido como superior ou inferior no momento do nascimento. Daí em diante, somente as influências psicoclógicas são recebidas, vindas do ambiente da criança. As condições desse ambiente é que irão formar o núcleo de sua habilidade.3
Mais adiante Suzuki afirma:
Não há efeito sem causa. Educação e criação erradas produzem personalidades feias, ao passo que uma boa criação e educação originam talentos superiores, nobreza e pureza de mente.
Todas as crianças adaptam as suas forças vitais e orgânicas aos seus respectivos ambientes.4
Estas afirmações são absolutamente verdadeiras. Então acrescenta a frase:
Não podemos imaginar a que alturas uma criança pode atingir, se educada apropriadamente logo após o nascimento.5
Suzuki acredita que talento não é acaso do nascimento, mas que todo potencial tem que ser educado, que toda habilidade tem que ser apropriadamente treinada e desenvolvida como tempo, sem ansiedade e ilusões. Possivelmente sem ter consciência, ele trabalha com os elementos da a ciência da "maturação". Música é diversão e deve ser praticada por prazer. Assim desenvolveu um sistema onde isto é a tônica. Com isto tudo estou em concordância.
A metodologia Suzuki Comparada com a Tradicional e Questionamento:
Seria o método Suzuki uma verdadeira inovação ou é ele uma extensão do sistema tradicional de ensino? O que tem eles em comum?
O denominado método Suzuki é em princípio uma coletânea de músicas em ordem crescente de dificuldades, ainda baseada no repertório tradicional de violino associada a gravações das mesmas. Segue o mesmo processo acadêmico de ensino por posições similar ao proposto por Geminiani, mas tem a sabedoria de escolher um repertório agradável aos ouvidos. Deste modo, não traz grandes novidades ao sistema de ensino.
A exceção é o conjunto de seus preceitos contra a existencia do mito do talento nato e da possibilidade de se educar a todos, principalmente através da repetição sistemática das obras, ao menos em um nível básico, independente das origens dos alunos. Na história da pedagogia do ensino do violino a negação da existência do mito do talento é a grande novidade dos últimos séculos.
Suzuki rompeu com o mito que preconizava a existência do talento nato e neste aspecto pedagógico venceu!
Poderiam ser combinados os princípios da metodologia Suzuki com os da Escola Russa do Violino?
Yuri Yankelevich, no livro “A Escola Russa do Violino”, Capítulo 1, Configurando o Violino e o Arco, afirma:
Existem normas e padrões gerais para o posicionamento das mãos e dos braços a um violino, e eles se baseiam em princípios objetivos de fisiologia, anatomia e mecânica.6
A necessidade emergente de ampliar o alcance do violino e de comandar o controle de toda a tastieira tornou necessário liberar o braço esquerdo.7
Sem dúvida, a questão de uma configuração eficiente só pode ser examinada no que diz respeito à sua relação imediata com aqueles movimentos para os quais foi criada e cuja liberdade deve garantir. Ao mesmo tempo, não se deve esquecer que, na performance musical, o critério para o estabelecimento de movimentos corretos deve ser determinado exclusivamente em consideração à qualidade do som que é subseqüentemente produzido.8
O termo "posicionamento prospectivo" é frequentemente encontrado na prática pedagógica. Em relação ao que foi mencionado anteriormente, o posicionamento prospectivo de um violinista é determinado por como esse posicionamento possa acomodar toda a gama de movimentos exigida em seu desenvolvimento futuro, por exemplo, o concerto de Brahms. Os professores de escolas de música encontram-se em uma situação particularmente desafiadora, pois trabalham principalmente com iniciantes e apenas ocasionalmente com alunos avançados. Ao estabelecer a postura dos alunos, o professor precisa saber não apenas como segurar o arco e como movê-lo nos estágios iniciais do estudo, mas também como ele precisará ser usado posteriormente em uma apresentação. Isso significa que o professor precisa olhar muito à frente e possuir grande percepção, sensibilidade e um conhecimento profundo do instrumento.9
Estas citações em nada contradizem os princípios de Suzuki. No máximo ampliam a antevisão que um professor de iniciantes tenha que possuir para apresentar um ensino de qualidade, neste caso específico de crianças. Contudo se um aluno começa tardiamente, os mesmos princípios de Suzuki e de Yankelevich são aplicáveis. Os dois se preocupam com qualidade, Suzuki mais com o caráter a ser desenvolvido pelo aluno, Yankelevich mais com as habilidades motoras e musicais. Não há contradição nisso. Os dois princípios podem ser desenvolvidos simultaneamente e isto é salutar. Os alunos e a sociedade ganham. A sua combinação apenas irá demandar mais investimento em pesquisas pedagógicas, em mais qualificação dos professores e muito estudo preparatório para as aulas. Insisto: Todo professor tem por obrigação atualizar-se constantemente.
1 - Shiniti Suzuki, Educação é Amor, Shiniti Suzuki, tradução de Anne Corinne Gottberg, - 3 ed. Rev. - Santa Maria: Pallotti, 2008, pg. 7.
2 - Ibid, pg. 19.
3 - Ibid, pg. 23.
4 - Ibid, pg. 24.
5 - Ibid, pg. 25.
6 - Yuri Yankelevich, The Russian Violin School, The legacy of Yuri Yankelevich, Capítulo 1- Setting up the Violin and Bow Hold, Translated and Edited by Masha Lankovsky, Oxford University Press, 2016, pg. 13.
7 - Ibid. pg. 13.
8 - Ibid. pg. 14.
9 - Ibid. pg. 14 e 15.