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Legado de Sidney Harth

     Professor de violino ou treinador desportivo?

        "Músicos são atletas capazes de feitos incríveis de resistência e controle, do tipo que causariam inveja a homens e mulheres dos esportes profissionais. Eles, como seus instrumentos, precisam ser afinados. Um equilíbrio muscular menos ótimo ou manter uma postura por horas a fio para a qual o corpo não foi projetado pode causar estragos".1 

               

        No presente há dois tipos básicos de ensino de música: um que se preocupa com o indivíduo como artista e outro que quer apenas obter resultados de habilidades motoras ao instrumento musical. O primeiro forma pensadores, o segundo atletas da música. A linha divisória entre esses dois estilos de ensino é muito tênue e fácil de transpor. O problema reside em aferrar-se a apenas um deles, caindo assim na ilusão de que a arte pode sobreviver sem o lado atlético ou que apenas ser um atleta da música é suficiente para se obter sucesso musical. Todo artista da música, se quiser dominar seu instrumento musical, tem que ser também um atleta, com maestria da técnica de seu instrumento específico, mas então por que não fazer todos os atletas da música serem também artistas?

       

        Uma das causas desse problema, se não for a principal, é o fato de que durante o processo de ensino, o professor de música de algum modo perde-se no processo e passa a ser apenas um treinador. No caso específico do violino, ele deixa de ensinar arte do violino e passa a focar-se apenar em movimentos e quantidades de notas corretas e afinadas a serem tocadas a cada segundo. Estabelece estratégias e segue manuais de planejamento de estudos e de prática diária. Adota métodos de técnica pura estéreis (como Sevcick e outros) e força os alunos a executar um número diário de exercícios motores sem sentido artístico! Reforçando, estabelece uma rotina prática do violino sem razão artística a ser conquistada! Exercícios repetitivos e estéreis passam a ser a tônica do ensino e da prática do instrumento! Assim, ao treinar competidores para concursos ou simplesmente para uma fama precoce, acaba por massacrar a capacidade criativa e a de compreensão estilística do seu aprendiz e tenta fazer dele uma imagem de si mesmo, como em um espelho, como um mero robô! O resultado pode ser o oposto do almejado!

       

        Isto é o contrário da pedagogia adotada por Sidney Harth. Professor profundamente preocupado com o desenvolvimento artístico e técnico individualizado de seus alunos, adaptava os vários princípios técnicos ao biotipo de cada aluno e também obrigava que os alunos apresentassem primeiro suas próprias propostas de interpretação das diversas músicas a serem aprendidas. Estes tinham que já tocá-las nas aulas com todas as notas dominadas, com arcadas e dedilhados marcados e com uma proposta de visão artístico/estilística, enfim, com uma porposta musical pessoal mas dentro do estilo do autor e da música em processo de aprendizagem. Ele só corrigia o que definitivamente considerava estilisticamente e/ou tecnicamente errado. Às vezes, mesmo considerando as ideias dos alunos boas, apresentava outras formas de execução aos eventuais problemas técnicos e de interpretação dos textos musicais com o objetivo de elucidar e aumentar o repertório de soluções técnicas e musicais dos alunos.

 

        Forçar os alunos a pensar, a refletir sobre o que e como tocar era a tônica de suas aulas. Suas soluções sempre eram musicalmente extremamente inteligentes e de fácil execução prática. Suas aulas nunca eram estéreis, nunca aborrecidas. Sempre foram cheias de desafios a transpor e o conhecimento adquirido oralmente era enorme!

1 - Barbara Paull e Christine Harrison, The Athletic Musician, a guide to playing without pain, The Scarecrow Press, Inc. Lanham, Md, & London, 1997, Nota, pg 5.

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